“Estamos todas sob a mesma tempestade, mas não no mesmo barco.”
- Hnasmdro
- junho 8, 2020
- Experiências MDR
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Caras Irmãs, foi-me pedido que escrevesse sobre a minha experiência durante este tempo de vida no Equador, e é isso que quero fazer.
No dia 11 de março de 2020, viajei desde o Chile até Quito, capital do Equador, seguindo o meu sonho missionário que nasceu no Juniorado de Lima, entre 1990-1991.
Nesta experiência missionária, a minha comunidade de destino é Quinindé, localizada na província de Esmeralda – Equador. No entanto, devido à pandemia, continuo a residir em Quito, a aguardar por “tempos melhores”.
Aguardar, uma atitude difícil para mim, com o desejo enorme de “chegar à Terra Prometida”; estar parada, à espera, representa um processo de conversão, de paciência e de disposição.
Principalmente se esta espera se dever a um vírus, que não sei de onde veio e que, mais uma vez, ataca cruelmente os mais desfavorecidos, e é por isso que este título de “estamos sob a mesma tempestade, mas não no mesmo barco” me parece muito sugestivo.
A humanidade está sob a mesma tempestade. Mas os barcos em que navegamos são muito diferentes, não é a mesma coisa atravessá-la num transatlântico, num navio de cruzeiro, num barco ou numa canoa. Penso que a maioria das pessoas economicamente desfavorecidas viajam de canoa. Remando contra a intempérie. Sem cuidados de saúde para os proteger, e apenas com o suficiente para comer. Com espaços mínimos para manter o distanciamento físico necessário como medida para mitigar o contágio. Noutros lugares, não contam sequer acesso a água potável para lavar as mãos, como primeira medida de proteção.
O que é este vírus e por que razão se propagou tão rapidamente? Tive a experiência do H1N1, no Chile, o medo, a incerteza; inclusive um parente próximo que sofreu com o vírus e esteve à beira da morte. No caso da Covid-19 parece ser muito mais letal.
A Organização Mundial de Saúde e os “super-heróis” que controlam a tecnologia, a economia, a política e tantas outras realidades não nos avisaram mais cedo, porquê? Muito provavelmente por CONVENIÊNCIA. Como poderiam suspender o turismo, o intercâmbio comercial, os voos, etc., em pleno período de férias de Verão no hemisfério sul? A economia é o principal interesse para os “senhores deste mundo” e os seres humanos continuam a ser sacrificados em nome dela.
Aqui, na cidade de Quito, na nossa bela casa comunitária, rodeada pela bela paisagem montanhosa, por vezes com uma chuva incessante, outras com um sol esplêndido, assisto às notícias e conecto-me através da WhatsApp, para manter-me em contacto com a realidade externa.
Conheço muitas pessoas infetadas, outras que, após quarenta e cinco dias, regressaram às ruas para vender os seus produtos, a fim de poderem levar alguns alimentos para casa. Conheço profissionais de saúde em todos os países que estão na linha da frente no combate à pandemia. Tenho conhecimento de familiares de irmãs que foram infetadas. E começo a preocupar-me com a minha irmã Erika, a mais vulnerável das irmãs, a quem todos os dias confio a Deus. E continuo a aguardar por “tempos melhores”, fazendo “tudo” em casa, e tentando fortalecer-me na fé, contra o desespero, esforçando-me por ver o que Deus quer de mim neste contexto.
Sinto-me motivado pelos gestos livres das pessoas da comunidade de fé onde participam as irmãs de Quito: um telefonema, a sua solidariedade com as frutas e legumes, e até um belo buquê de rosas. Os pobres são nossos amigos e com eles continuaremos percorrendo este caminho. Ainda há esperança, vou resistir e, com a graça de Deus, vou chegar à “terra prometida”: Quinindé.
Quito, 14 de maio de 2020.
Edith Ponce Castro.
Missionária Dominicana do Rosário.