UMA LIÇÃO DE FÉ, SOLIDARIEDADE E ESPERANÇA

No dia 29 de outubro vivemos uma experiência muito difícil. Lembro-me que ao meio-dia, quando voltei da universidade, eram 3h30, mas o céu estava muito escuro, como se fosse chover muito. Quando me aproximei de casa, uma senhora disse-me: “Diga às suas irmãs para não irem para a faculdade à tarde; há um alerta laranja.” Fui para casa e contei às irmãs, mas elas disseram-me que a universidade já tinha suspendido as aulas.

Jantamos tranquilamente e depois começamos a trabalhar nas nossas coisas. De repente, uma irmã veio e disse: “Olha lá para fora, já tem água na rua”. Fomos até à janela e vimos a água a correr. Pensei que acabaria em poucos minutos, mas o nível começou a subir. Logo vimos carros e contentores a flutuar.

A casa tem duas portas, por isso colocamos sacos de areia e sacos plásticos para tentar parar a água. No entanto, o nível continuou a subir e a água começou a entrar em casa. No começo, pensei que não iria subir muito, mas a nossa irmã mais velha disse: “A água vai continuar a subir”. Confiando na sua experiência, começamos a mover as coisas.

Somos 14 irmãs na comunidade: 13 jovens e uma irmã mais velha. Entre todas levamos colchões, camas e o que podíamos para o primeiro andar. Os frigoríficos, máquinas de lavar roupa e os armários pequenos foram colocados em cima de mesas e cadeiras. Começou por volta das 20h40, mas a água só entrou em casa às 21h30. A partir desse momento trabalhámos sem parar até às 11h ou 11h30 da noite. A água dentro de casa já estava acima dos nossos joelhos.

À entrada da casa temos uma capela. A porta fazia muito barulho, como se fosse abrir. Finalmente, subimos o Santíssimo Sacramento e pedimos a Jesus que protegesse a nós e ao povo. Todas nós ficamos no primeiro andar. Para muitas, foi a primeira vez que experimentou algo assim. Tínhamos medo de que a força da água quebrasse a porta, mas graças a Deus, ela resistiu.

Vigiei toda a noite esperando a água baixar. Finalmente, por volta da 1h30 da manhã, começou a descer. Desde aquela noite ficamos sem eletricidade e sem água. Depois de descansar um pouco, de manhã descemos as escadas e vimos o piso térreo cheio de lama e água. Tudo estava em silêncio, como se alguém tivesse morrido. Mais tarde, vimos pessoas na rua de botas, avaliando os danos.

Tiramos água de uma torneira próxima e começamos a limpar a casa. Quando saí para a outra rua, fiquei chocada: carros empilhados uns em cima dos outros, postes de eletricidade caídos, árvores arrancadas e pessoas chorando porque tinham perdido tudo. Nesse primeiro dia só retiramos a lama porque não tínhamos água suficiente. No dia 31 também estávamos sem eletricidade, água ou cobertura móvel, o que preocupou as irmãs em Madrid.

Passamos quase uma semana sem eletricidade e sem água, com cobertura muito fraca. Todos os dias íamos à torneira da aldeia recolher água para limpar. Enquanto transportávamos água, três irmãs caíram na lama; Duas não sofreram muito, mas uma quase quebrou o braço e chorava de dor. Fui à câmara municipal perguntar para onde a levar em caso de emergência e disseram-me que podíamos ir ao hospital de Manises. Nós caminhamos para o Bairro de Cristo esperando por um táxi, mas depois de mais de uma hora nenhum chegou. Não pudemos chamar uma ambulância porque disseram que levaria horas. Por fim, decidimos pedir ajuda a um carro que passava por aquela direção. Muitas pessoas passaram sem parar, até que uma finalmente parou. O motorista, como um bom samaritano, nos levou ao hospital. Terminamos a consulta por volta das 23h. Surgiu então outra pergunta: como chegaríamos a casa?

Tentámos apanhar um táxi, mas quando ouviram o nome Aldaia, ninguém quis ir porque era proibido entrar. Esperamos na rua até à meia-noite, mas sem sucesso. Finalmente, decidimos passar a noite no hospital. Às 4:30 da manhã, começamos a caminhar de volta para casa. Ao longo do caminho, encontramos um táxi. O motorista, do Paquistão, pensou que eu também era de lá e, ao explicar a nossa situação, concordou em levar-nos até perto de Aldaia, embora fosse proibido entrar. Chegamos em casa às 5:30 da manhã. Foi mais uma experiência de Bom Samaritano.

Quando terminamos de limpar a nossa casa, organizamos grupos para ajudar os vizinhos e as famílias da paróquia. De 30 de outubro a 9 de novembro caminhamos pela cidade ajudando a limpar e admiradas de como Deus nos deu forças para não nos cansarmos. Só quando íamos para a cama é que sentíamos a dor no corpo. Graças ao paracetamol, conseguíamos levantar-nos no dia seguinte e continuar a trabalhar.

Vi muitas coisas que nunca esquecerei. Pessoas de perto e de longe chegavam à aldeia com vassouras e baldes para ajudar e outras com comida quente. Perguntavam se alguém precisava de alguma coisa. Nunca vi tantos voluntários na minha vida. Foi uma experiência difícil, mas cheia de Fé, Graça, Força e Solidariedade.

Ir. Mona Dhandar

Aldaya

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