CARTA N°2 A JESUS SOBRE A MINHA EXPERIÊNCIA DE CRISE E CONVERSÃO
- Hnasmdro
- diciembre 10, 2024
- Experiências MDR
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Querido irmão Jesus de Nazaré, é um gosto saudar-te. Recordaste de mim? Claro, como não te vais a recordar de mim se cada uma de nós, pessoas, estamos sempre na tua mente. Sou Teresa Ngoie Mbula, a religiosa congolesa, das Missionárias Dominicanas do Rosário, que te escreveu no outro dia a partilhar sobre a sua Experiência de Acompanhamento. Hoje quero partilhar sobre outro tema de muito interesse para mim, as crises e a conversão.
Quero dizer-te à partida que a conversão e as crises andam de mãos dadas, porque uma crise aceite como tal leva-nos a uma conversão, a uma nova maneira de ver as coisas e as pessoas. Pois, segundo a minha experiência, pude observar que a conversão é uma transformação interior que permite que Deus habite em nós de modo radical e tranquilo, dando-nos paz e alegria.
Referindo-me às crises, pode dizer-se que estas últimas, supõem momentos de perda e de dor, que incapacitam momentaneamente a pessoa para disfrutar da vida e conectar com o prazer e o bem-estar que nos oferece a vida. Passei alguns momentos de crise profunda e dolorosa, quando saí da Congregação; havia momentos em que me dizia: “Não o vou superar nunca, estou num beco sem saída”. Era horrível, sentia-me partida, desgarrada em pedaços e não tinha vontade de nada que não fosse chorar. Sentia-me como se todo o mundo estivesse contra mim e sobre mim e que não tinha sentido nenhum seguir adiante. Era incapaz de dar-me conta de que todas essas emoções e sentimentos dolorosos que se refletiam em mim eram como aguilhões que iriam transformar-me numa pessoa mais forte e mais sábia.
Uma das coisas que aprendi da minha experiência vocacional foi o facto de que todos passamos por crises, mas a sua aceitação é o motor, a energia para encontrar a força interna para acolher a vida nas próprias mãos. A aceitação de que as coisas e as pessoas são como são, longe de me fazerem sentir mais frustrada e tomar uma má decisão no calor da emoção, permite tornar-me mais forte.
O início da conversão ou da transformação da crise é a aceitação da realidade que faz a uma mesma protagonista da sua situação; a crise exige inovação, reinvenção, escutar novas formas de pensar e fazer, muita valentia na tomada de decisões, atuar para conseguir determinados objetivos e avaliar os riscos para não nos equivocarmos. Trata-se de reconstruir-nos de novo. Assim, creio que perante as crises é importante escutar-nos, escutar os demais, sobretudo os que não pensam como nós. Esta última escuta, nos ajuda a deixar o que fazíamos e a construir algo novo, com novas perspetivas e novas possibilidades. É aqui onde podemos compreender que as crises tomadas com seriedade, são oportunidades que nos ajudam a crescer na fé e espiritualmente e a reviver a nossa vida à luz de uma maior consciência e amor a Deus e aos demais.
Apesar do anterior, quero confessar-Te que não é fácil entrar em contacto com a crise, já seja própria ou alheia, e derramar as lágrimas necessárias que ajudem a cicatrizar as feridas. Tampouco é simples conceder-se o tempo necessário que uma necessita para avançar neste processo, mas as pessoas próximas te animam a esquecer rapidamente e pôr-te bem o quanto antes. Estou segura, partindo da minha própria experiência, que a crise ensina a confiar na vida, a fazer a experiência da perplexidade do labirinto da vida e manter-se firme na tenebrosidade do desafio. Pois não podemos calcular a vida detalhadamente, como numa agência de viagens, é necessário fazê-lo com a vontade de Deus e os demais. E é aqui onde a conversão e o acompanhamento espiritual nos veem melhor para poder aliviar nossa dor, a nossa crise; para chegar a converter-nos, perdoar-nos e perdoar os demais.
Na minha curta experiência, pude compreender que a pessoa que busca acompanhamento e conversão está cheia de experiências de crises e de alegrias; o que busca é responder a Deus de maneira autêntica e com todo o seu ser, para encontrar sentido para as suas experiências de dor e prostração. A pessoa que entra neste processo está tratando de entender as coisas impossíveis que Deus está a realizar na sua vida e assume o risco de abrir a sua vulnerabilidade, confiando em Deus através da presença do acompanhante espiritual. A presença sanadora de Deus no espaço do acompanhamento espiritual e na conversão toca-nos e cura-nos, para poder iniciar uma nova vida n’Ele. Quando assumi isso com seriedade, permitiu-me uma conversão total no meu ser, ao ponto de regressar à Congregação.
Querido irmão Jesus, não sei quais são as palavras adequadas para agradecer o suficiente, pelo tempo que vais empregar em ler as minhas cartas; pelo menos fico à espera de notícias Tuas na vida e mando uma cordial saudação.
Teresa Ngoie Mbula