Desde o Equador…
- Hnasmdro
- julho 13, 2020
- Experiências MDR
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Duas antigas alunas das Missionárias Dominicanas partilham: EXPERIÊNCIA VIVIDA EM TEMPO DE PANDEMIA.
Na última semana de março, a pandemia deflagrou em Guayaquil, uma cidade portuária, com uma população de 2,3 milhões de habitantes, onde se concentrou quase metade dos casos positivos de covid-19 em todo o país. Viveu-se o horror, a tragédia e o medo espalhou-se. As famílias deambulavam pela cidade batendo às portas para que recebessem os seus familiares doentes num hospital público onde não havia camas; também não havia vagas nas clínicas privadas, nem medicamentos, nem oxigénio. A cidade enfrentou o pesadelo de centenas de cadáveres espalhados nas ruas. Os doentes morriam em casa e eram deixados nas calçadas. Caiam em frente aos hospitais e ninguém queria recolhê-los. O sistema de saúde esteve próximo do colapso. O colapso no sistema funerário foi de tal magnitude que o presidente do Equador, Lenín Moreno, teve de formar uma força-tarefa conjunta para enterrar as vítimas mortais do novo coronavírus – contentores frigoríficos foram colocados nos hospitais para depositar os corpos, não há espaço para os enterrar.
A situação de emergência ultrapassou a capacidade de resposta de toda a sociedade. A cidade cheira ao vírus que mudou a vida dos habitantes de Guayaquil – deixou um cheiro de doença, de dor, de tristeza, de vazio, de indignação. O que teria acontecido se tivessem recebido atenção atempadamente? O surto de contágios ocorreu porque a população não respeitou as indicações e em Guayaquil a taxa de pobreza é muito elevada, é muito difícil que as pessoas fiquem em quarentena; não há dinheiro e a fome não espera.
A fé foi um dos fortes pilares do povo de Guayaquil para sair do desespero em direção à esperança de que seguimos em frente e que só Deus nos pode salvar. A Igreja concentrou os seus esforços no plano solidário e espiritual, as paróquias funcionaram como centros de recolha e distribuição de alimentos nos momentos em que a fome foi mais sentida. A Igreja continuou a cumprir as celebrações litúrgicas e as orações através de transmissões online – meios tecnológicos – para semear a esperança.
Neste cenário, o Hogar Perpetuo Socorro, também, viveu momentos muito difíceis – os alimentos escassearam, ninguém podia sair para comprar ou fazer doações, sobreviveram com o que tinham.
Partilhar estas experiências com as Irmãs Missionárias Dominicanas do Rosário foi uma oportunidade de nos aproximarmos da comunidade que nos formou e preparou para a vida, sobretudo para servir os mais vulneráveis; graças a Deus temos o acompanhamento virtual das nossas queridas religiosas que estiveram no Equador e que hoje estão em Espanha. Ajudam-nos diariamente com as suas mensagens, a fim de fortalecer a nossa fé, encorajar-nos e aliviar as nossas tensões e incertezas.
Estamos na segunda fase de desconfinamento e a cidade de Guayaquil, nas últimas semanas, não registou mortes associadas por covid-19, apenas novos casos de infeção. As nossas ilusões e desejos de progredir ultrapassaram os nossos medos. Não há dúvida de que esta situação não poderia parar o nosso labor e a formação integral das nossas jovens e adolescentes para que possam ser protagonistas de um mundo melhor; continuamos a lutar para que não só saibam amar, mas também se sintam amadas.
Agradeço às nossas Irmãs Missionárias Dominicanas do Rosário pelo acompanhamento e apoio espiritual com que nos brindam, adoramo-las e trazemo-las nos nossos corações.
Barbarita e Isabel, ex-alunas das Missionárias Dominicanas do Rosário
Guaiaquil, Equador.
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